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terça-feira, 23 de março de 2010

Monteiro Lobato, Jeca Tatu , "Almanaque Fontoura" e minha Mãe - Quarteto Fantástico


“Minha mãe adorada adorava ler.” Não, isso não é um trava-línguas! É apenas a introdução para falar sobre o Jeca Tatu, um dos meus personagens infantis, entre tantos que me foi apresentado pela minha mãe, mas que era o único que, a princípio, não era um personagem infantil!
Monteiro Lobato criou o personagem Jeca Tatu, um trabalhador rural paulista, em sua obra Urupês (1918). A obra, onde está reunida uma série de 14 contos, retira todo o romantismo do caboclo - idealizado por consagrados escritores - através de duras críticas ao abandono e miséria a que eram submetidos os “Homens do Campo” pelas políticas públicas brasileiras. Mas não foi esse Jeca, criado para atacar as elites dominantes, que eu conheci, não. Eu conheci um especialmente feito por Lobato para conscientizar a população brasileira da importância do saneamento básico e de hábitos saudáveis de higiene...
 A história em quadrinhos era publicada em uma revista muito popular na época. Minha mãe era uma das tantas senhoras que corria para a farmácia à espera do Almanaque do Biotônico Fontoura (popularmente conhecido apenas por "Almanaque Fontoura"). O Almanaque teve a sua primeira publicação em 1920 e se tratava de uma simples revista publicitária do Biotônico Fontoura, um produto criado por um farmacêutico chamado Cândido Fontoura. O mais interessante é que era distribuída gratuitamente pelas farmácias do país. Suas páginas recheadas de informações e curiosidades foram idealizadas originalmente por Monteiro Lobato.

Na verdade minha mãe não devia ter a menor idéia de quem era Monteiro Lobato e nada devia saber sobre sua guerra contra as políticas de abandono. Ela nem mesmo devia saber sobre as reinações de Narizinho. Se ainda hoje no Brasil as famílias carentes não têm acesso aos livros como deveriam, imagine em 1935? Nascida no Interior do Estado do Rio de Janeiro, no mesmo ano em que o Almanaque foi publicado pela primeira vez, minha mãe cresceu ouvindo as venturas e desventuras do Jeca Tatu . As histórias contadas por seu pai, homem do campo que, evidentemente, devia se ver no personagem, foram as únicas lidas em uma publicação. Todas as outras, deste grande "Contador de Histórias" foram criadas por ele mesmo, ou por seus conterrâneos. Quando tinha 4 aninhos, minha mãe começou a ouvir no rádio (único meio de comunicação na fazenda), as noções de higiene e saneamento que o personagem Jeca Tatuzinho, recém criado nas rádios, ensinava às crianças. Cresceu com o Jeca e esperando ansiosamente o dia em que conheceria a cidade grande.
Aos 15 anos, minha mãe abandonou os canaviais para morar com sua irmã mais velha na Cidade Maravilhosa, finalmente realizando seu maior sonho: ler e escrever. Não parou mais de ler, mas sempre foi fiel aos almanaques. Depois que viu uma infinidade deles, dos mais variados tipos e assuntos, então! Já não precisava mais ficar esperando pela publicação gratuita nas farmácias, como seu pai fazia em sua pequena Chave do Paraíso. Agora era só ir na esquina que poderia comprar uma infinidade de almanaques, revistas e até livros. Mas mesmo com tamanha diversidade sempre foi fiel ao seu querido Jeca Tatu e sempre voltava nas farmácias em busca do novo número do "Almanaque Fontoura"! Tanto que ele também povou meu universo infantil, mesmo depois de 35 anos. O Jeca, considerado preguiçoso, alcoólico e imbecil, mas que na verdade sofria de amarelão, verminose causada por falta de saneamento e asseio, sempre foi usado para me convencer a tomar banho e escovar os dentes. Afinal, depois de devidamente cuidado o Jeca Tatu se tornava um rico fazendeiro. Até hoje me lembro do último quadrinho no Almanaque, onde todos no sítio do Jeca estavam devidamente calçados. Até o porquinho usava botinas! Que historinha atual, não é?

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei! minha mãe e avó também eram seguidoras assíduas do almanaque. Você me emocionou. Recordar é viver. Obrigada pelo minuti de boas lembranças. ótima matéria.

Osvaldo Oliveira disse...

Nossa, que gostoso relembrar o jeca e seu almanaque. Fui criado em uma cidade pacata e naquele tempo ja tinha fidelidade no comercio, cliente fiel da farmacia, meu pai ja esperava dezembro pra ganhar um almanaque fontoura que alem dos remedios, sempre tinha uma historia nova do Jeca.
Que saudade...

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