quinta-feira, 20 de junho de 2013
Os Vândalos do Rio de Janeiro
Mensagem de Liv Oliveira no Facebook "Fazia muito tempo que não me envolvia em protestos, me lembro que em minha adolescência o único movimento político que me pareceu coerente de todo era aquele que lutava pelo passe livre, que na época tinha risco de ser perdido. Um direito do estudante que deveria mesmo ser ampliado, estendido aos universitários. Na passeata antiga de que me lembro, entramos em confronto com a polícia, que começou ...como sempre começa, a coibir violentamente os manifestantes. Quando se fala de violência há de se compreender o direito de resposta do que é vítima, como somos nós vítimas do estado, reféns de uma polícia corrupta e atroz. Passou por mim nesse tempo, enquanto eu corria de uma bomba de gás lacrimogêneo, e era uma menina de dezesseis anos, um homem que disse ao telefone pra alguém “ aqui no centro tem um monte de marginais vestidos de estudantes”.
Eu fiquei boquiaberta na época e ainda hoje fico quando alguém condena uma pessoa que luta pelos próprios direitos indo à uma passeata, protestando. Uso com frequência o argumento de que numa primavera árabe, como chamaram, a revolta da população é considerada válida, enquanto aqui a revolta é considerada crime, reagir ao estado, à polícia, é o mínimo que podemos e devemos, ainda que eles tenham táticas e nós não, devemos resistir, o mais pacificamente quanto o possível, mas promovendo transtornos sim, porque um protesto que não incomoda é um protesto sem voz.
E pra citar Hélio Oiticica, com seu “seja marginal, seja herói” devo dizer, que ser chamada de marginal não é hoje pra mim uma ofensa, e sim um elogio. Já que o refugo da sociedade, o que ela regeita como regeitou-me em algumas circunstâncias, talvez seja o que há de mais válido nela, o que há de combatente, de vivo, de possivelmente revolucionário. Talvez seja apenas um espelho do qual não se gosta, um espelho que retrata a verdadeira face, o que me lembra inevitavelmente Dorian Gray.
Quando se fala dos “poucos vândalos” para uma multidão de pacíficos, devemos pensar se não estamos fazendo uma revolução que a mídia acata facilmente. Já que a mídia frequentemente manipula nossa opinião, e nos sonega informações que tem, se isso não é perigoso, se isso não vai fazer com que coloquemos no poder um governante de direita. Ao invés de uma política minimamente válida, comprometida com respeito por nosso direitos, e não com um deputado como o Feliciano na comissão de direitos humanos, que é algo de uma ironia transcendental. Se não estamos fazendo uma revolução de que a mídia vai se utilizar negativamente. É aí que reside todo perigo. Acho por exemplo que se um deputado ganhasse como um professor a política não seria o que é, mas são eles quem votam os próprios salários, enquanto nós somos quem devia decidir isso.
Me filio mais a um pensamento de viés algo anarquista, algo comunista, porém não gosto de ismos e acabo por definir-me apartidária e independente. Tenho, como temos todos, uma cabeça própria, influenciável é verdade, mas no geral desvinculada de uma lógica de manada até quando me for possível evitar. e sei quanto de utópico e ideal há nisso. Por isso nenhum estado jamais me representará, a presidente Dilma não me representa mesmo que eu tenha votado nela por considerar que dentre as opções viáveis era a menos pior.
Aqui no rio, o que tem sido feito é uma elitização progressiva da cidade, os moradores das favelas estão deixando de ser pobres e a elite está tomando o lugar, a cidade está mudando o caráter miscigenado que sempre teve e que garantia certa horizontalidade nos espaços comuns. O custo de vida está aumentando e o aumento da passagem é só a gota d'água de tudo isso, o que faltava para coroar um quadro mais que absurdo. Vive-se num estado de vigília constante, uma ratoeira da qual não conseguimos nos desvencilhar por mais que tentemos com afinco, porque há sempre uma e outra pedra no caminho, pra citar Drummont.
A polícia é violenta e cruel, aqui. O estado é violento e cruel, aqui. E o cidadão é que está a mercê dele, e não o contrário, mas somos muitos, ainda que nesse coro de tantas vozes se sobressaiam algumas poucas, e sempre tenhamos a impressão de que estamos sendo enganados, manipulados, e massacrados pela mídia, polícia, estado, e pela multidão que vai as ruas linchar, pois não há nada mais covarde que um linchamento, seja ele afetivo ou físico.
Na manifestação que fui nessa segunda-feira, foram presas pessoas que não tinham absolutamente nada de vândalos, uma menina foi presa por portar um objeto que ela encontrou na rua mas no momento do confronto foi fruto de um saque a uma loja de malas, pelo que entendi. Como podem fazer os governantes para tirar um e outro como exemplo pra massa e pra que pareça que não valha a pena resistir, e lutar pelos direitos que todos temos. Ela foi presa injustamente e injustamente condenada a ficar sem fiança, os outros foram liberados segundo fiança, a minha foi de dois mil reais, para responder em liberdade como quadrilha. Eram pessoas que nunca haviam se visto antes. Um estado em que aqueles que o combatem são passiveis de serem tidos como terroristas é ditatorial.
Não concordo com uma lógica nacionalista que se perpetua, acho que somos todos cidadãos do mundo antes de pertencermos a este ou àquele país. O que vi na passeata que fui, foi uma multidão de muitas vozes distintas, xingavam a todos os governantes. Mesmo a mim, que não governo nada, xingavam também, uma multidão pode ser positiva ou negativa, as vezes ambas as coisas, simultaneamente.
Compreendo uma vivacidade derivada da violência, uma violência que se desvele poeticamente, embora não apoie a depredação de prédios históricos ainda que segundo meu senso estético ( como artista plástica e poeta que sou ) eles fiquem mais interessantes assim. Acho que barricadas que atrapalhem o acesso da polícia aos manifestantes podem vir a funcionar muito bem. Embora também não tenha participado de nenhuma construção de barricadas no protesto, fui apenas vê-las.
Protestei pacificamente, mas não passivamente, sim como uma performance reativa, injustamente fui presa, e agora meu advogado me aconselha a não estar com os meus, na passeata, onde o efetivo de polícia aumentou muito. Meu rosto estampado nos jornais impede que eu saia ilesa, devido ao histórico psiquiátrico que tenho, possivelmente pararia em um manicômio judicial. Peço a todos que puderem ir, que vão, e combato daqui, com as armas que tiver ao alcance, o que for possível.
A multidão que estava na Rio Branco eram muitas vozes distintas, já a que foi à Alerj me deu a impressão de ser uma voz mais unívoca, embora saibamos que há sempre infiltrados. Por exemplo com uma bomba precisei de vinagre, me deram primeiro wisky, depois vinagre, e leite de magnésia. Em uma outra hora em que recebi spray de pimenta no rosto, logo após aquela foto, me deram tiner para passar no rosto, o que singifica que é muito difícil nessas situações, saber quem é o inimigo. A polícia me tacou pedras e atirou o que não tenho certeza se foi uma bala de borracha ou um tiro de raspão, além do spray de pimenta. Então, sei que inimigos são muitos, mas eles são os piores em minha relação e minha performance no ato.
A polícia me agrediu como agride a todos os manifestantes, nesse tipo passeata, como sempre foi feito, hoje fui ao IML, fazer um exame de corpo delito para que eu possa me defender e que meu processo seja arquivado. Na delegacia uma espécie de tortura psicológica foi o que me aconteceu, pra sair de lá assinei papéis que não sei em exato o que foram, e agora espero para ver no que vai dar. Espero que isso se torne maior do que qualquer indivíduo, que seja a micro política invadindo a macro, agora que por bem, devo dizer o que penso."
sexta-feira, 20 de julho de 2012
A Indisciplina na Sala de Aula
Esta foi a opinião que dei sobre o tema à Revista da Educação Publica. A matéria foi publicada na revista junto com as considerações de vários outros professores. Para ler a matéria completa clique no link abaixo.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Manifestação Italiana em Defesa dos Animais
sábado, 28 de abril de 2012
Dia da Educação - 28 de Abril - Educação para Todos
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Quando a Sociedade é o Espaço do Inferno
Gostaria de expressar minha opinião com relação à matéria intitulada “Quando a Escola é o espaço do inferno”, publicada na revista Época, em 18/7/2011.
Concordo que a política de “mediação” seja a melhor forma de prevenir os “conflitos escolares”. A questão é quando se minimiza um “conflito social” complexo, que exige tratamento em conjunto com todas as esferas envolvidas – políticas públicas, econômicas e sociais - a simples “conflitos escolares”. Este foi exatamente o erro dos britânicos. Com uma escola pública idealizada pelo mestre Paulo Freire e tão argumentada pelo senador Cristóvão Buarque, a Grã Bretanha, ainda que com uma educação tecnológica de primeiro mundo, enfrenta “conflitos escolares” de terceiro mundo, ou mais apropriadamente, de “mundo moderno”. Por mais preparada que seja uma escola, ela é incapaz de assumir sozinha a responsabilidade pela formação integral do indivíduo. A primazia na educação cabe à família, isto é fato. É através da união desta, com a escola, que se garante uma formação voltada para os valores sociais imprescindíveis à formação da pessoa humana. A escola erra quando não reconhece sua responsabilidade e igualmente erra a sociedade ao acreditar nos “superpoderes” dos professores. Seja para conter a violência em sala de aula; seja para transformar uma realidade social economicamente injusta e historicamente excludente, o professor não possui “superpoderes”, e nem os almeja. A escola é reflexo da sociedade, e não o contrário. Quando a escola se transforma no espaço do inferno, é porque a muito se esqueceram de “exorcizar os demônios” da sociedade.